No último mês de julho, os pais da menina Beatriz Mota, assassinada com 42 facadas no Colégio Maria Auxiliadora, em Petrolina, em 10 de dezembro de 2015, tiveram uma audiência com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, em Brasília, quando apresentaram uma série de denúncias sobre as investigações do caso.
O PNB teve acesso ao relatório da comissão, que enumera as falhas apontadas pelos pais sobre a investigação da Polícia Civil de Pernambuco. Segundo o documento, Lucinha Mota e Sandro Romilton apresentaram elementos que comprovariam uma investigação insuficiente e a parcialidade de agentes do Estado no trabalho de investigação.
Dentre as denúncias estão: a ausência de interdição do colégio após o crime; a falta de perícia na sala de balé, local próximo ao depósito de material esportivo onde o corpo da criança foi encontrado; ausência do exame toxicológico na criança, o que deixaria em aberto a dúvida sobre como o corpo foi encontrado sem sangue, já que o laudo afirma que ela foi golpeada com 42 facadas; laudos inconclusos das roupas de Beatriz para comparação com material de DNA de possíveis suspeitos; laudo inconcluso das roupas sujas de sangue de um dos suspeitos do crime, entre outros pontos questionados.
Também consta no relatório, informação sobre o fato de o perito Gilmário Lima ficar de posse dos equipamentos de DVR E HD por mais de dois meses, para depois informar que neles não continham imagens gravadas, o que demonstra a lentidão nas investigações. Na época, o perito informou também que os equipamentos que continham imagens do assassino com uma faca, na área externa da escola, tiveram a memória apagada dias após o crime.
Os pais da vítima também informaram à Comissão de DH que a policial civil Ednalva Maria de Souza, lotada na delegacia que investiga do caso, é casada com Alisson Henrique, que teve sua prisão decretada por oito meses e recentemente revogada, por ser acusado de ter apagado as imagens em que apareceriam o assassino da criança. Alisson prestava serviço ao colégio na área de informática.
Os pais de Beatriz questionam a capacidade técnica dos peritos de realizar os laudos nos equipamentos, e suspeitam que peritos do caso tenham prestado consultoria ao colégio, na área de segurança, com o objetivo de montar um plano de monitoramento de segurança, após o crime ter ocorrido na instituição de ensino.
Após a audiência em Brasília, fazendo uma investigação paralela a do Estado de Pernambuco, os pais da criança comprovaram que um dos peritos, Diego Henrique Leonel de Oliveira Costa, atualmente chefe de perícia do Departamento de Polícia Técnica de Pernambuco, que também emitiu laudos sobre o assassinato de Beatriz, prestou serviço ao Maria Auxiliadora na montagem do plano de segurança da escola, através da empresa Convertic, trabalho que também foi realizado após o crime.
“No mínimo é estranho que um policial que também investiga o caso Beatriz, um agente público da segurança de Pernambuco, ao mesmo tempo que emite laudos sobre o crime, trabalha para uma empresa particular no plano de segurança do colégio onde minha filha foi morta. Eu queria que o perito Diego ou o colégio informassem qual o valor do serviço, se outros peritos ligados a investigação, também prestaram serviço particular ao Auxiliadora”, questionou Lucinha Mota, mãe de Beatriz.
O PNB conseguiu contato com o perito Diego Henrique Leonel, que confirmou a informação da mãe de Beatriz de que ele prestou serviço particular ao Colégio Maria Auxiliadora na elaboração do plano de segurança, no entanto ele não revelou valores, nem quando fez o trabalho.
Diego disse ao PNB que não poderia passar informações sobre o caso porque corre em segredo de justiça. Ele disse também que os laudos que emitiu foram extramente técnicos e que gostaria que a Polícia Federal ou o Ministério Público, ou qualquer perito do Brasil, analisassem estes laudos. O perito disse também que não atuou no início das investigações e que seu último laudo foi emitido no começo de 2019. Diego Leonel também informou que foi ao colégio algumas vezes, mas se negou a responder se foi como perito ou como prestador de serviço.
Quando questionado sobre valores e o período em que prestou serviço ao colégio, Diego respondeu: “Isso é outra coisa. Não vem ao caso. Não vou entrar no mérito”.
E concluiu dizendo que “Quem veicular meu nome vai ter que provar o que fiz e vai responder judicialmente. A mãe pode ter sofrido o que for, não vou ter pena da mãe. Ela pode ter perdido a família toda, mas não vai sujar meu nome, vai responder judicialmente”, disse o perito, por telefone, ao PNB.
Denúncia protocolada ao MPPE
Nesta quarta-feira (16), em Recife, os pais de Beatriz, Lúcia Mota e Sandro Romilton protocolaram uma denúncia no Ministério Público de Pernambuco, com documentos levantados por eles, através da investigação particular e paralela ao Estado, onde segundo eles constam acusações com provas de que agentes públicos estariam obstruindo as investigações. Eles também notificaram a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social sobre a denúncia.
Durante a tarde, os pais de Beatriz participaram de uma audiência com a cúpula de segurança do Estado de Pernambuco, onde trataram da federalização do Caso Beatriz.(Da Redação do PRETONOBRANCO)
Blog Bruno Brito
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